
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro na manhã deste sábado (22/11/2025) deflagrou uma onda de reações imediatas nos bastidores da política, com discursos que já delineiam a estratégia de defesa do ex-presidente e a leitura dos adversários sobre a medida.
Aliados: “Perseguição”, “Injustiça” e Apelo à Base
Ainda que o núcleo mais próximo do ex-presidente estivesse mobilizado desde a condenação (em setembro de 2025) para evitar a prisão, a conversão para a preventiva gerou um discurso de vitimização e confronto institucional.
- Flávio Bolsonaro (Senador e Filho): Embora as declarações mais recentes disponíveis datem de semanas atrás, quando o ex-presidente estava sob prisão domiciliar e criticava as medidas cautelares, o tom deve ser mantido e intensificado. Em ocasiões anteriores, Flávio condenou o que chamou de “decisões absurdas” de Alexandre de Moraes, alegando que se tratavam de um “desejo de vingança” e uma “barbaridade” que atentam contra o Estado de Direito. É esperado que ele reitere a tese de perseguição política e a injustiça da medida.
- Partido Liberal (PL): O partido, que historicamente tem defendido Bolsonaro no processo da trama golpista, deve reafirmar o apoio incondicional. Após a condenação, em setembro, o PL classificou a decisão como uma das “páginas mais sombrias” da história nacional e prometeu intensificar a luta por “liberdade e democracia”. A prisão preventiva deve ser usada como prova da tese de que o sistema está trabalhando para silenciar a oposição.
- Onda de Apoio (Vigílias): A principal reação imediata da base aliada será, paradoxalmente, a consolidação dos atos que, segundo fontes, motivaram a prisão preventiva: as vigílias e manifestações de apoio. O discurso será de que a prisão é uma tentativa de calar a voz popular, incentivando a mobilização.
Adversários: “Previsível”, “Justiça” e Reforço à Democracia
Do lado dos adversários e figuras da esquerda, o tom é de alívio institucional e de reafirmação de que a lei está sendo cumprida, sem privilégios.
- Líderes da Esquerda e PT: A prisão preventiva está sendo vista como uma consequência “previsível” das ações do ex-presidente. Líderes do PT, em declarações anteriores, afirmaram que Bolsonaro teria “provocado” o STF ao descumprir reiteradamente as medidas cautelares (como o uso de redes sociais e as manifestações públicas). O entendimento é de que o Judiciário agiu para garantir a lisura do processo e a estabilidade democrática.
- Juristas e Analistas Políticos: O consenso na análise de juristas de oposição é que a prisão preventiva se justifica pela reincidência no descumprimento de ordens judiciais e pelo risco de obstrução da Justiça, além do risco de instabilidade social que as aglomerações poderiam gerar. Eles celebram a medida como uma demonstração de que “o crime não compensa” e que ninguém está acima da lei.
O Ângulo do Jornalista
A polarização se aprofunda. A prisão preventiva não é apenas uma medida jurídica; é um combustível político. Enquanto a base de Bolsonaro se sente justiçada em sua narrativa de perseguição, os adversários veem a consolidação da Justiça contra o golpismo.
A questão-chave nos próximos dias será: a prisão preventiva esfriará a mobilização da base bolsonarista, ou a tornará mais radical e coesa em torno do discurso de “mártir” da causa? O Judiciário aposta na primeira opção, mas a história recente da política mostra que líderes presos podem, ironicamente, fortalecer a lealdade de seus seguidores.
