O Plenário da Câmara dos Deputados transformou-se em palco de um confronto físico de alta voltagem na tarde desta terça-feira, quando o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força por agentes da Polícia Legislativa Federal (Depol) após ocupar a cadeira da Presidência da Casa.

O incidente, que paralisou os trabalhos legislativos e levou ao corte da transmissão ao vivo da TV Câmara, ocorreu em um ato de protesto de Braga contra a decisão do presidente em exercício, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar a votação de seu processo de cassação.
O Motivo da Tensão: Cassação na Pauta
Glauber Braga enfrenta um processo no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar, decorrente de um incidente em abril de 2024, quando agrediu um militante do MBL (Movimento Brasil Livre) nas dependências da Câmara. A decisão de Hugo Motta de levar o processo à votação em Plenário foi o catalisador do protesto.
Por volta das 15h, o deputado do PSOL subiu à Mesa Diretora e sentou-se na cadeira principal, declarando que não sairia em protesto contra o que classificou como uma “perseguição política” e uma manobra da Mesa Diretora para intimidar a oposição.
“Esta é uma ofensiva golpista. A Câmara é dócil com deputados que apoiam golpes e usa a porrada contra quem faz resistência,” declarou Braga após ser retirado.
A Retirada Forçada e o Caos
A recusa de Braga em acatar as ordens para deixar o local levou Hugo Motta a acionar a Polícia Legislativa. Menos de uma hora após o início do protesto, uma equipe da Depol entrou no Plenário e realizou a remoção do parlamentar.
Relatos de deputados presentes e imagens que circularam nas redes sociais indicam que a retirada foi violenta, com o uso de técnicas de imobilização. Alguns deputados da oposição denunciaram que Braga foi retirado com o uso de um “mata-leão” e que ele foi arrastado para fora do Plenário.
Em uma medida rara e controversa, o presidente Hugo Motta ordenou o fechamento das portas do Plenário e o corte imediato da transmissão da TV Câmara, alegando a necessidade de “restaurar a ordem”. A decisão gerou protestos imediatos de parlamentares e jornalistas.
Denúncias de Agressão:
Deputados e membros da imprensa que tentavam acompanhar a retirada no Plenário relataram terem sido impedidos de entrar, e houve denúncias de empurrões e agressões por parte dos agentes de segurança.
A atitude da Presidência de censurar a cobertura ao vivo levantou sérias questões sobre a transparência dos trabalhos da Casa e o direito à informação.
Repercussão e Ética Parlamentar
O confronto reacende o debate sobre o decoro parlamentar e a linha tênue entre o protesto político legítimo e a desobediência às regras da Casa.

Enquanto a base governista apoia a ação da Presidência para garantir a “dignidade do cargo” e a continuidade dos trabalhos, a oposição critica a violência desproporcional e a tentativa de silenciamento. O presidente Hugo Motta defendeu a ação da segurança, afirmando que a Mesa Diretora não aceitará “tentativas de tumultuar o processo democrático”.
A votação do processo de cassação de Glauber Braga deve ocorrer ainda hoje, em meio a um clima de profunda polarização e desconfiança mútua no Congresso Nacional. A pauta do dia foi ofuscada pela imagem do deputado sendo forçosamente retirado de seu assento de protesto.