
O que vou falar agora
Não vou deixar para depois,
A carroça vai atrás
E não na frente dos bois.
Já é um senso comum,
Se não foi no cordel um,
Garanto que vai no dois.
Eu já fui agricultor,
Já conheci magarefe,
Já vi muita gente boa,
Mas também vi mequetrefe.
Parece até ironia,
Nunca vi mais sintonia
Do que lá no HGF.
Lá tudo roda perfeito,
Perfeito de perfeição.
Médicos vinte e quatro horas,
Se precisar, tá na mão.
Acordei com uma bela imagem,
Vi que o corpo de enfermagem
Trabalha com interação.
É assim como um relógio
Que trabalha com engrenagem,
Cada peça em seu lugar,
Com a mesma padronagem.
Tem o médico e o enfermeiro
Que cuida de ti primeiro
Com muito amor e coragem.
Vinte e oito de agosto
Foi o dia do internamento.
Eu acordei pela tarde
Conferindo os movimentos.
Fiquei cheio de emoção
Quando mexi com a mão,
Aquilo foi um acalento.
Estava tudo parado
Logo quando eu dei entrada.
Eu tentava conversar,
Mas a fala atrapalhada.
Um lado todo “esquecido”,
Pés e mãos adormecidos,
Dá uma agonia danada.
Quando eu mexi com a mão
E pude mexer o pé,
Dei um glória para Jesus
E digo com muita fé:
E o que eu mais queria
Nessa hora e nesse dia
Era avisar pra mulher.
A família desesperada,
Reunida em oração.
Eu lutando pela vida
Naquela instituição.
Ainda tinha os sem fé,
E dizia o amigo Zé:
“Dessa vez não volta não.”
E eu lá naquela cama,
Envolto em meus pensamentos.
Chegava médico e enfermeiro
Mostrando os conhecimentos.
Cheio de aparelho ligado,
Era fio pra todo lado
Pra inserir os medicamentos.
Lá ninguém fica parado,
Não existe letargia.
Uns conferem tua pressão,
Já outros a glicemia.
Com a equipe completa
Pra atingir toda a meta
Onde a vida é garantia.
A moça da nutrição
Também foi comparecer.
Eu fiquei todo animado,
Disse: “Agora eu vou comer.”
Mas senti decepção
Quando provei do quinhão,
Só como pra não morrer.
Ô comida ruim da peste,
É comida de hospital.
Eu lembrava do churrasco
Que comia no meu quintal.
Aí foi que me dei conta
Que estava pegando afronta
De ter comido tão mal.
Mas aí eu entendi
Que a comida não é mal.
Mal mesmo estava eu
Quando entrei no hospital.
Tudo ali é bem dosado,
É só comer conformado
Que a cura é natural.
E na hora da higiene,
Constrangimento total.
Duas moças muito bonitas,
Todas duas profissional.
Uma vem do “Mercosul”,
Outra da “América do Sul”,
Mas tudo institucional.
Todo dia já te perguntam
O nome e que dia está,
Pra saber se é a cabeça
Do cabra que vai melhorar.
Perguntas aleatórias,
E no meio tem histórias
Pra o teu jeito se lembrar.
Faz parte do protocolo
E da fisioterapia,
Pra saber se tu reage
Vem a fonoaudiologia,
Terapia ocupacional,
O serviço social
E também a psicologia.
À espera pela visita
É que dá muita agonia.
À espera pelos seus
Que te amam todo dia.
Falo com a voz embargada,
Ver a pessoa amada
É um presente em poesia.
Eu estava me sentindo
Bem melhor a cada dia.
O pessoal da T.O.
Que eu nem sabia que existia,
Que eu não sabia jamais,
Mas esses profissionais
Me deram autonomia.
Também a fisioterapia,
Que eu vou deixar registrado.
Tem um pessoal competente
Que não saía do meu lado.
Não me deixavam cair,
Muito menos desistir,
Como anjos disfarçados.
Mas teve um momento lindo,
Que eu falo em caixa alta:
Fiquei igual um cabrito,
E quando chove ele salta!
Foi quando veio o doutor,
Olhou e disse: “O senhor
Seu José está de alta.”
Ô alegria danada,
Fiquei igual pombo sem asa,
Mais feliz que dia de feira
De manga lá na Ceasa.
Muito obrigado, doutor,
Mas agora eu vou pra casa.
E agora estou em casa,
Transbordando de alegria.
Se eu só posso comer folhas,
Como duas árvores por dia.
E a todos que foram orar
Pro Senhor me curar,
Eu vos dou essa poesia.
A todos que dedicaram um tempo para ler este cordel, meu mais sincero agradecimento.
Cada verso foi escrito com o coração e inspirado na vida real, com fé, esperança e gratidão.
Que estas palavras possam tocar, inspirar e fortalecer quem as lê, assim como me fortaleceram ao escrevê-las.
Com carinho,
Zé da Legnas