
Entenda a transição da Monarquia para a República e como o abandono dos recém-libertos moldou a desigualdade social que combatemos no Dia da Consciência Negra.
Quando celebramos o Dia da Consciência Negra, é comum
voltarmos nossos olhares para o 13 de maio de 1888, data da assinatura da Lei Áurea. No entanto, para compreender a realidade do Brasil e as raízes da desigualdade, precisamos fazer uma pergunta fundamental: o que aconteceu no dia seguinte?
Muitos acreditam que a abolição trouxe liberdade plena, mas a história nos mostra um cenário de abandono estatal e crises políticas que ecoam até hoje.
O Contexto Político: O Fim da Monarquia
No momento em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, o Brasil ainda era uma Monarquia, governada nominalmente pelo Imperador Dom Pedro II. Contudo, aquele gesto, embora necessário, custou a sustentação do trono.
A elite agrária — os grandes fazendeiros donos do poder econômico — retirou seu apoio à família real por não ter recebido indenizações pela libertação dos escravos. O resultado foi rápido: apenas um ano e meio depois, em novembro de 1889, um golpe militar derrubou o Império e instaurou a República.
Apesar da mudança de regime, a mentalidade de quem governava permaneceu a mesma. A República nasceu de costas para o povo, mantendo as estruturas de exclusão social.
A “Liberdade” sem Cidadania
Para os negros recém-libertos, a realidade foi cruel. A liberdade jurídica não veio acompanhada de garantias básicas.
- Sem Terra: Não houve reforma agrária ou doação de terras para que pudessem plantar e sobreviver.
- Sem Emprego: O governo brasileiro incentivou a vinda de imigrantes europeus para ocupar os postos de trabalho assalariado, numa política clara de “branqueamento” da população.
- Sem Educação: O acesso às escolas continuou restrito.
Expulsos das fazendas e sem lugar na sociedade formal, essa massa populacional foi empurrada para a marginalidade, dando origem às primeiras favelas e cortiços nos grandes centros urbanos. Além disso, a cultura negra foi criminalizada: práticas como a capoeira e o samba eram tratadas como casos de polícia e “vadiagem”.
Por que lembrar disso em Pentecoste?
Refletir sobre a Consciência Negra é entender que a desigualdade que vemos hoje no Brasil — e também aqui no Ceará — não é um acidente. É fruto de um projeto histórico onde a porta da senzala foi aberta, mas a porta da cidadania permaneceu trancada.
Lembrar de Zumbi dos Palmares e da luta negra é reafirmar que a verdadeira abolição só acontece com oportunidades iguais, respeito e dignidade.