A Bíblia nos fala sobre a visita de um profeta chamado Samuel, que foi enviado até a casa de um homem chamado Jessé, para escolher e ungir um novo rei para a Nação de Israel.
O relato é repleto de detalhes curiosos que passam despercebidos aos olhos de muitos, ou pior, revelam práticas comuns, erros que costumamos cometer repetidamente e que bem faríamos se procurássemos evitar.
Samuel, embora sendo profeta autêntico, homem vivido e cheio de experiências na vida, cometeu equívocos prosaicos, que percebo as pessoas cometendo todos os dias: ele se deixou levar por impressões físicas, estéticas, carnais.
Por que será que, sobretudo nesses últimos tempos, tantos homens e mulheres de Deus, pessoas que afirmam ter valores espirituais, pregam a primazia dos elementos metafísicos, das realidades transcendentais, se acham tão inclinados ao encantamento material, estando envolvidos em tantas disputas por títulos nobiliárquicos, ternos dispendiosos, casas cinematográficas, carros de luxo e vida tão voltada para conquistas de bens terrenos?
Outro dia estava jantando com meu amigo Doutor Augusto Neto, reitor universitário prestigiado e humilde, quando em dado momento ele me disse: “Pastor Darckson; é muito bom sair com o senhor, porque sempre conversamos tantos assuntos edificantes, sem nenhuma relação com bens materiais”.
Entendo o que ele disse, porque – freqüentemente, tenho me sentido um peixe fora d’água, quando tenho de assentar-me na roda de amigos (alguns bem conhecidos no meio evangélico) e os assuntos sempre são número de membros nas Igrejas, ofertas e cachês, tamanho de templos e carros ou parafernálias tecnológicas.
Confesso que tenho procurado evitar, porque ou me sinto ridículo e inautêntico tendo de rir de assuntos que definitivamente não me interessam, ou vou ser um antipático desmancha prazeres gerando incômodo ao ambiente.
Já contei uma experiência interessante que tivemos certo dia quando morávamos no Rio de Janeiro e que agora compartilho com meus leitores: saí com minha esposa e filhos numa tarde, para um lanche, e ao retornarmos para o estacionamento estavam dois atores da rede Globo no elevador conosco – as fisionomias não me pareciam estranhas, mas não sabia os nomes porque não assisto novelas e nem esses programas tolos de entretenimento – mas percebi certo “desconforto” no casal que muito provavelmente, parecia temeroso de ser “assediado”.
Meus filhos os reconheceram, mas continuaram a conversar conosco normalmente, fomos para a fila de pagamento do estacionamento e os atores ficaram em pé conosco também, sem serem perturbados.
Quando entramos no carro uma pastora que estava conosco comentou: “Viram como o casal Global (que segundo ela disse, estavam fazendo novela das oito como protagonistas!) ficaram desconcertados”?
Minha resposta foi: “De que modo, nós, acostumados a conviver com Deus e os anjos, ficaríamos em atitude de deslumbramento com um casal de atores da rede Globo”?
Caros amigos e amigas: já não está na hora de a Igreja deixar de “bater à porta dos poderosos” e voltar-se como no passado para as sublimes portas do céu?
O que tem de “profetas” perdendo discernimento como Samuel porque estão envolvidos demais com as aparências deste mundo…
“Irmãos, reparai, pois na vossa vocação, visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento;
pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus.”
(I Coríntios 1:26 A 29).
Pois é justamente esse deslumbramento pela secularização, esse “olhar voltado demais para as coisas de fora”, que tem tirado da Igreja a capacidade de se encantar com as coisas divinas, olhando para dentro de si mesma e para as riquezas de cima.
Meditai!
Darckson Lira.
