
Decisão estratégica de centralizar produção em Pernambuco gera onda de demissões e “angústia” entre 98 funcionários diretos e centenas de terceirizados no Ceará.
PACATUBA, CE – A gigante cervejeira Heineken confirmou nesta terça-feira (2) o encerramento das operações de sua unidade fabril em Pacatuba, na Grande Fortaleza, lançando um clima de profunda incerteza e apreensão sobre a vida de centenas de famílias cearenses. A decisão, que faz parte de uma reestruturação estratégica da companhia no Nordeste, resultou no corte de, pelo menos, 98 empregos diretos e a estimativa de mais de 250 demissões na cadeia de terceirizados, totalizando cerca de 350 postos de trabalho perdidos.
O Preço da Incerteza
A notícia do fechamento, embora não fosse totalmente inesperada, atingiu os trabalhadores com força. Um técnico eletricista, com 15 anos de dedicação à empresa e que pediu para não ter sua identidade revelada por medo de represálias, resumiu o drama vivido na planta.
“Os últimos dias foram muito angustiantes. O nível de ansiedade das pessoas na fábrica era muito grande, por conta da incerteza que se tinha”, afirmou o técnico em entrevista ao Diário do Nordeste.
O sentimento de angústia perpassa os muros da fábrica. O desligamento de profissionais com longa história na companhia, como o técnico entrevistado, ilustra o abrupto desfecho para uma relação de trabalho duradoura.
O Foco da Heineken Agora é Pernambuco
A motivação por trás do fechamento em Pacatuba está diretamente ligada à estratégia da Heineken de concentrar sua produção no Nordeste na fábrica de Igarassu (PE), que recebeu recentemente um robusto investimento de R$ 1,2 bilhão para expansão.
Embora o Ceará continue sendo um mercado consumidor e um centro de distribuição crucial para a marca, a retirada da produção industrial marca um recuo significativo para o estado.
Ações e Negociações Sindicais
Diante da onda de demissões, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Águas Minerais, Cervejas e Bebidas em Geral do Estado do Ceará (Sindibebidas) entrou em campo para mitigar os danos.
Fernando Matos, representante do sindicato, confirmou o número de 98 trabalhadores diretos atingidos e assegurou que foram realizadas negociações de benefícios para os demitidos.
“Ao todo, 98 trabalhadores serão atingidos. O sindicato já realizou a negociação de benefícios para esses empregados. A empresa também apresentará propostas de transferência para Pernambuco e São Paulo,” disse Matos.
A proposta de transferência para outras unidades, como Pernambuco e São Paulo, oferece uma alternativa para parte da força de trabalho, mas exige que os funcionários e suas famílias enfrentem o desafio de uma relocação completa.
Impacto Local e o Silêncio da Empresa
Nem a Heineken nem a Prefeitura de Pacatuba divulgaram números oficiais sobre o total de funcionários, dificultando uma avaliação precisa do impacto total na economia do município, que agora perde uma importante fonte de geração de renda e arrecadação.
O encerramento em Pacatuba reforça a tendência de reconfiguração do mapa industrial cervejeiro no Nordeste, deixando a cidade cearense com o amargo sabor da perda de empregos e do desmonte de sua estrutura fabril. A atenção agora se volta para a efetividade dos pacotes de benefícios e para as políticas de recolocação que podem ser implementadas para as quase 350 pessoas que buscam, de repente, um novo rumo profissional.